Vão comemorar-se 3 anos sobre a morte da Lina em missão, da noite de hoje para o dia de amanhã. Recupero um texto que escrevi no dia em que recebi o telefonema da Elisa a informar da morte da Lina, em jeito de homenagem. Só por Ti, só...
«Eram 6h30 da manhã quando recebemos a chamada: a missão de Fonte Boa tinha sido, pela segunda vez, assaltada. O que nos devastou o coração e nos deixou sem reacção foi o resultado do assalto: a Lina tinha sido apanhada e morta pelos assaltantes, bem como o Padre Valdir, que tivemos oportunidade de conhecer na nossa visita à missão, em Maio. Assim, a seco, ainda sem pormenores, a notícia tomou-nos de surpresa e encheu-nos de choque e duma tristeza inimagináveis.
Conhecia a Lina muito bem, porque era suposto termos feito missão juntos, em Fonte Boa, onde tudo aconteceu. Recordo-me da força que emanava daquela mulher e recordo-me do quão bem e protegido me sentia perto dela. A casa do Sr. Adelino, no campo de trabalho que serviu de preparação para a nossa vinda para cá, ficou quase pronta muito por culpa dos sacos de cimento que ela ajudou a carregar e a fazer. Ela tinha uma força física e psicológica impressionante, que tocava a todos quantos estavam perto dela. Era uma mulher da terra, criada no campo. Ninguém lhe fazia frente e se alguém reclamava ela depressa o punha na ordem. Recordo, com uma lágrima no canto do olho, todos esses momentos que passámos juntos a preparar aquela que seria a nossa missão. No entanto, não fui para Fonte Boa e não pudemos fazer missão juntos. Não pude, portanto, aproveitar o último ano da vida dela, não pude aprender tudo aquilo que ela tinha para me ensinar. Reencontrei-a nos Exercícios Espirituais e quando fomos fazer a visita à missão de Fonte Boa. Parecia mais forte do que nunca, empenhada no seu trabalho e contente por estar a viver a experiência da sua vida, por poder estar a ser útil, por estar a dar a sua vida pelos outros. Disse-me que iria renovar por mais um ano a sua missão, porque ali havia muito trabalho e ela queria fazer a sua parte. Deixei-a com muita saudade, mas com a certeza de que nos encontraríamos de novo para partilharmos as coisas boas e más do que tinha sido a nossa missão. Infelizmente, tal não foi possível.
Como disse em cima, ficámos, cá em casa, todos em choque ao sabermos da notícia devastadora: a Lina morreu. Mais em choque ficámos quando, ao longo do dia, fomos sabendo os pormenores, que ainda não se encontram bem certos: a Lina foi estrangulada e esfaqueada, e o Padre Valdir foi morto na cama, com um tiro. Tudo num assalto que servia de retaliação, pois no primeiro assalto, realizado uns meses antes, um dos assaltantes foi morto. Assim, o resto do grupo resolveu vir vingar o colega e agora duas pessoas que ofereceram a sua vida a Deus viram essa mesma vida ser-lhes tirada por quem nada tem a ver com Ele.
Quando transmiti a notícia à Rita e à Carla, ficámos muito tempo sentados, apenas a olhar para o vazio, incrédulos com tudo o que estava a acontecer. Entretanto, os telefonemas sucediam-se, assim como as visitas. Toda a equipa missionária de Lichinga, ao saber do sucedido, dirigiu-se a nossa casa para nos dar um abraço de força e de solidariedade. Uma verdadeira prova de amizade e carinho, que dificilmente poderei esquecer. Solícito, o Padre Joaquim, o primeiro a aparecer cá, marcou para o final do dia uma eucaristia em nossa casa com toda a equipa missionária, para podermos rezar pela Lina e pelo Padre Valdir, brutalmente assassinados sem qualquer justificação plausível.
E assim ficámos todo o dia, sentados, olhando o vazio, recebendo quem nos queria vir dar as condolências. Os nossos pais ligaram também, obviamente preocupados com a notícia, que já estava a ser difundida por todos os meios de comunicação social portugueses.
A eucaristia, no final do dia, foi simples mas sentida. Rezámos todos para que Deus tivesse a alma da Lina e do Padre Valdir bem perto d’Ele. Cá para mim, oração apenas necessária para sossegar os nossos corações, porque tenho a certeza que eles estarão já bem perto d’Ele, a olhar para todos nós, e que Ele está já a consolar as suas almas.
Chego ao final do dia atordoado, sem saber nem o que pensar, nem o que fazer. Apetece-me dormir, pois não me sinto com capacidade de ter mais nenhuma reacção. Aqui, isolados, nem podemos estar com o Sérgio e com a Filipa, nem podemos ir ao funeral prestar-lhe uma última homenagem. Só podemos sentar-nos, e esperar para saber como tudo se desenrola. Nem sei o que hei-de pensar, nem sei o que hei-de esperar. Espero que os autores dos crimes sejam apanhados, e que seja feita justiça. Também fico contente por não ter que ser eu a aplicá-la, pois não sei como reagiria se o tivesse que fazer.
Não sei. Tudo está confuso. Estou triste, estou chocado, estou sem reacção possível. Quero terminar a minha missão, porque acho que uns não devem pagar pelos erros dos outros. Quero terminar a minha missão, porque me comprometi e dei a minha vida por um ideal. E quero terminar a minha missão por ti, Lina, porque sei que não quererias ver ninguém a desistir daquilo por que deste a tua vida. Principalmente por ti, todos os missionários deveriam continuar a sua missão, certos de que, lá no alto, velas por nós e nos aconchegarás nas noites mais difíceis.
Só por ti, só… »
Conhecia a Lina muito bem, porque era suposto termos feito missão juntos, em Fonte Boa, onde tudo aconteceu. Recordo-me da força que emanava daquela mulher e recordo-me do quão bem e protegido me sentia perto dela. A casa do Sr. Adelino, no campo de trabalho que serviu de preparação para a nossa vinda para cá, ficou quase pronta muito por culpa dos sacos de cimento que ela ajudou a carregar e a fazer. Ela tinha uma força física e psicológica impressionante, que tocava a todos quantos estavam perto dela. Era uma mulher da terra, criada no campo. Ninguém lhe fazia frente e se alguém reclamava ela depressa o punha na ordem. Recordo, com uma lágrima no canto do olho, todos esses momentos que passámos juntos a preparar aquela que seria a nossa missão. No entanto, não fui para Fonte Boa e não pudemos fazer missão juntos. Não pude, portanto, aproveitar o último ano da vida dela, não pude aprender tudo aquilo que ela tinha para me ensinar. Reencontrei-a nos Exercícios Espirituais e quando fomos fazer a visita à missão de Fonte Boa. Parecia mais forte do que nunca, empenhada no seu trabalho e contente por estar a viver a experiência da sua vida, por poder estar a ser útil, por estar a dar a sua vida pelos outros. Disse-me que iria renovar por mais um ano a sua missão, porque ali havia muito trabalho e ela queria fazer a sua parte. Deixei-a com muita saudade, mas com a certeza de que nos encontraríamos de novo para partilharmos as coisas boas e más do que tinha sido a nossa missão. Infelizmente, tal não foi possível.
Como disse em cima, ficámos, cá em casa, todos em choque ao sabermos da notícia devastadora: a Lina morreu. Mais em choque ficámos quando, ao longo do dia, fomos sabendo os pormenores, que ainda não se encontram bem certos: a Lina foi estrangulada e esfaqueada, e o Padre Valdir foi morto na cama, com um tiro. Tudo num assalto que servia de retaliação, pois no primeiro assalto, realizado uns meses antes, um dos assaltantes foi morto. Assim, o resto do grupo resolveu vir vingar o colega e agora duas pessoas que ofereceram a sua vida a Deus viram essa mesma vida ser-lhes tirada por quem nada tem a ver com Ele.
Quando transmiti a notícia à Rita e à Carla, ficámos muito tempo sentados, apenas a olhar para o vazio, incrédulos com tudo o que estava a acontecer. Entretanto, os telefonemas sucediam-se, assim como as visitas. Toda a equipa missionária de Lichinga, ao saber do sucedido, dirigiu-se a nossa casa para nos dar um abraço de força e de solidariedade. Uma verdadeira prova de amizade e carinho, que dificilmente poderei esquecer. Solícito, o Padre Joaquim, o primeiro a aparecer cá, marcou para o final do dia uma eucaristia em nossa casa com toda a equipa missionária, para podermos rezar pela Lina e pelo Padre Valdir, brutalmente assassinados sem qualquer justificação plausível.
E assim ficámos todo o dia, sentados, olhando o vazio, recebendo quem nos queria vir dar as condolências. Os nossos pais ligaram também, obviamente preocupados com a notícia, que já estava a ser difundida por todos os meios de comunicação social portugueses.
A eucaristia, no final do dia, foi simples mas sentida. Rezámos todos para que Deus tivesse a alma da Lina e do Padre Valdir bem perto d’Ele. Cá para mim, oração apenas necessária para sossegar os nossos corações, porque tenho a certeza que eles estarão já bem perto d’Ele, a olhar para todos nós, e que Ele está já a consolar as suas almas.
Chego ao final do dia atordoado, sem saber nem o que pensar, nem o que fazer. Apetece-me dormir, pois não me sinto com capacidade de ter mais nenhuma reacção. Aqui, isolados, nem podemos estar com o Sérgio e com a Filipa, nem podemos ir ao funeral prestar-lhe uma última homenagem. Só podemos sentar-nos, e esperar para saber como tudo se desenrola. Nem sei o que hei-de pensar, nem sei o que hei-de esperar. Espero que os autores dos crimes sejam apanhados, e que seja feita justiça. Também fico contente por não ter que ser eu a aplicá-la, pois não sei como reagiria se o tivesse que fazer.
Não sei. Tudo está confuso. Estou triste, estou chocado, estou sem reacção possível. Quero terminar a minha missão, porque acho que uns não devem pagar pelos erros dos outros. Quero terminar a minha missão, porque me comprometi e dei a minha vida por um ideal. E quero terminar a minha missão por ti, Lina, porque sei que não quererias ver ninguém a desistir daquilo por que deste a tua vida. Principalmente por ti, todos os missionários deveriam continuar a sua missão, certos de que, lá no alto, velas por nós e nos aconchegarás nas noites mais difíceis.
Só por ti, só… »
1 comentários:
Ela estará sempre connosco...obrigado Ricardo!
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